“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Por Hiram Reis e Silva (Iranduba, AM, 25 de janeiro de 2009)
- ‘Inconstância Tumultuária’
Gostaríamos de voltar a tratar da dinâmica do Rio-Mar, fazendo menção a alguns tópicos do livro ‘Manacapuru e sua História’, do senhor ‘Josué Ferreira Ruis’ dono do Hotel ‘Boa Vida’ onde ficamos hospedados em Manacapuru e tivemos o privilégio de conhecer.
Ilha de Manacapuru: ficava em frente à cidade e desapareceu, totalmente, na década de 60. Vinte anos depois o rio iniciou sua reconstrução com uma grande praia e hoje é conhecida pelo nome de Ilha de Santo Antônio.
Ilha de Pirapitinga: situava-se na foz do rio do mesmo nome e com o tempo foi levada pela força das águas.
Ilha da Conceição: localizava-se próxima à Colônia Bela Vista e em dois anos foi removida pelo rio-mar.
Ilha do Barroso: era uma grande ilha de mais ou menos 5 por 6 quilômetros e, na década de 50, por ocasião das vazantes, a distância entre a ilha e a costa de Bela Vista era tal que permitia que as lavadeiras de ambas as margens conversassem entre si enquanto lavavam as roupas.
- Ciclo da Juta e Malva
Na nossa estada em Manacapuru, tivemos a oportunidade de visitar as instalações da ‘Companhia Têxtil Castanhal’ que classifica e enfarda a juta recebida dos produtores para encaminhar, posteriormente, para industrialização. A gerente, senhora Patrícia, nos relatou alguns fatos interessantes que vamos procurar reproduzir. A Juta e a Malva são plantadas nas várzeas na época das vazantes e colhidas na época das cheias. A juta pode ser colhida após 3 meses de plantio e a malva depois de 4 meses o que permite duas safras ao ano.
Embora durante aproximadamente dez anos o ciclo da Juta e da Malva tenha coexistido com o da Borracha, foi com a queda do comércio da borracha, em 1957, que este ciclo ganhou força se tornando a principal economia da região de Manacapuru. Desde 1988, porém, que, sem políticas governamentais em nível federal e estadual adequadas, sua comercialização entrou em franco declínio.
A semente, antes entregue pela Companhia aos produtores cadastrados e que era paga pelo produtor com parte de sua produção, passou a ser feita pelo governo. A ‘bolsa semente’, como as demais bolsas governamentais, se presta à corrupção graças à falta de controle, permitindo que as sementes sejam vendidas por funcionários corruptos a atravessadores que repassam o produto aos ribeirinhos por preços aviltantes. Achamos que a criação de cooperativas com maquinário adequado para a retirada da fibra seria uma medida mais adequada que a ‘bolsa esmola semente’, permitindo não só um aumento significativo na produção, mas também na qualidade do produto. Em nível federal deveria ser sancionada uma lei que determinasse o emprego obrigatório de sacos de fibra vegetal na embalagem de determinadas sementes, assim como existe para o café exportado, que estaria muito mais de acordo com o desenvolvimento sustentável, diferentemente dos produtos que se encontra no mercado atual.
- Largada para Iranduba
Ligamos para o 190 e nossos amigos policiais prontamente nos atenderam e nos levaram até o ‘Paraíso D’Angelo’ onde estava o caiaque. Passamos bom tempo conversando com o mestre D’Angelo e retardamos a saída para não perder a oportunidade de ouvir nosso dileto e sábio amigo. Vamos sentir saudade do ‘homem de branco’ de Manacapuru que passeia pela sua propriedade com a serenidade de um ‘Anjo no Paraíso’. Partimos bem depois das 8 horas, sem pressa, já que o deslocamento era bastante curto. O Lago Miriti com suas águas tranqüilas e limpas nos encantou e dele partimos rumo a Iranduba. Depois de menos de 4 horas de navegação, sem paradas, enfrentando mau tempo durante boa parte do percurso chegamos ao flutuante do senhor Zé Cipó onde se encontrava o caiaque do Romeu. O Romeu estava me aguardando já há algum tempo, porque normalmente saio muito cedo, mas a companhia do mestre D’angelo me fez alterar a rotina.
- Iranduba
Os policiais já estavam alertados sobre todo o apoio a ser prestado e nos levaram à ‘Pousada Santa Rita’ administrado pela senhora Terezinha da Silva Cunha Crisóstomo. A limpeza das instalações e a cortesia de seus proprietários nos impressionaram muito favoravelmente e o fato de encontrarmos outra grande ‘coincidência’ na nossa viajem nos convenceu que o Grande Arquiteto vem trabalhando do nosso lado nos apontando o rumo a ser seguido. Mais uma coincidência Amazônica: a dona Terezinha é viúva do senhor José Silvestre do Nascimento e Souza, um dos maiores nomes da ‘Ciranda’ do estado do Amazonas, cujo nome já tinha sido mencionado em Manacapuru onde organizou a primeira Ciranda no Colégio Nossa Senhora de Nazaré. Fizemos contato com o Secretário do Turismo e Meio Ambiente para contatarmos elementos da prefeitura para nos mostrar a cidade e principalmente o sítio das ‘Terras Pretas Indígenas’. A Polícia Militar nos levou, depois do banho, até o ‘Restaurante Sertanejo do Paraíba’ onde já nos esperava o pessoal de Comunicação do município. O senhor José Raimundo, conhecido como ‘J. Rai’, nos fez um interessante relato sobre a história da cidade e, depois do almoço, acompanhados do senhor Levenilson Mendonça da Silva, o ‘lei’, fomos até o sítio onde estão fazendo as escavações arqueológicas.
O ‘Restaurante Sertanejo do Paraíba’ foi colocado, pela prefeitura, à nossa disposição e como fica afastado da cidade pedimos apoio da PM local para chegar até ele. Infelizmente, mais uma vez, a velocidade da internet local não permitiu que fizéssemos o upload das imagens que fizemos desde Anori. Entrevistamos o senhor José Raimundo, o ‘J. Rai’, que gravou um relato sobre a cidade e o senhor Levenilson sobre as ‘terras pretas indígenas’ de Iranduba.
(*) Coronel de Engenharia; professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Rua Dona Eugênia, 1227
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