Engenheiro florestal estima que região tenha 14 mil pés da árvore.
Índios da etnia falam língua da família caribe, herança de antepassados.
Importante para vários povos indígenas no Brasil, o pequizeiro tem função estratégica entre os kuikuros, no Parque Indígena do Xingu. A reserva em Mato Grosso tem 2,6 milhões de hectares, equivalente ao de Sergipe, e fica em uma zona de transição do Cerrado para a Amazônia.
No parque, cortado pelo Rio Xingu, moram 5 mil índios de 14 etnias. A reportagem entrou no local pelo sul da reserva, que faz divisa com o município de Canarana, em MT. O caminho segue por 200 km, por meio do Rio Coluene.
A aldeia kuikuro fica a cerca de 6 km do rio e no local fala-se uma língua da família caribe, herança da época em que seus antecedentes viviam nas fronteiras do Brasil com a Venezuela e a Guiana. São mais de 700 índios, a maior e uma das mais antigas tribos do Xingu. Acredita-se que a migração deles para a região se deu há mais de mil anos.
Na época, eles eram nômades e viviam só do extrativismo. Quando se fixaram no Xingu, os kuikuros passaram a praticar a agricultura. As ocas chamam a atenção de quem visita as aldeias do Alto Xingu. São construções gigantescas. As maiores chegam a ter 25 metros de cumprimento.
Segundo o cacique Afucacá, a cobertura é de sapé. “Em época de chuva, não chove [dentro]. Fica bem fresquinho dentro”, lembrou. O interior das ocas é escuro porque não há janelas. As únicas aberturas são duas portas, uma à frente e outra nos fundos. Cada oca é habitada pela linhagem completa da família, com avós, filhos e netos.
Quando os indígenas se casam, quem sai da casa é o homem. A divisão do espaço é muito simples: nas laterais são armadas redes de dormir e no centro fica a cozinha. O cacique Afucacá defende que sua função é lutar para não deixar morrer a cultura dos kuikuros. “Dentro da aldeia, nossa tradição está viva. O colar de caramujo, que estou usando, faz parte da tradição”.
Aos poucos, os kuikuros vão abrindo as portas da aldeia para a cultura dos brancos. No lugar já tem até equipe de TV, treinada por técnicos da organização não-governamental (ONG) Vídeo nas Aldeias que, em parceria com o Museu Nacional do Rio de Janeiro, ensinou os índios a operarem câmeras de filmagens para registrar sua cultura. Na aldeia, a colheita do pequi é celebrada com brincadeiras e muita dança. A fruta é rica em vitamina A e também contém vitaminas C e B, além de proteínas e outros nutrientes. Com sua polpa, as mulheres fazem vários pratos. Um deles é a sopa de castanha de pequi, salgada, com pimenta verde, água e castanha cortada em pedacinhos.
O plantio da semente da fruta é feito toda vez que nasce um novo indivíduo na aldeia. A tradição leva em conta que o pai precisa semear árvores para garantir a alimentação do filho no futuro.
“Quando crescerem filhos e netos, a gente passa para eles cuidarem do plantio. Eu vou plantar 50 pés para minha caçula e ela vai poder começar a colher os frutos daqui uns dez anos”, diz Afucacá. O plantio do pequi é feito sempre no meio do mandiocal. Os índios exploram a roça por três anos e, depois, deixam a área só para a formação do pequi.
Por conta da tradição, há diversas plantações bem antigas na aldeia. Segundo o engenheiro agrônomo Marcus Schmidt, do Instituto Sócio Ambiental (ISA), a estimativa é de que existam cerca de 14 mil pés de caqui na região. "É a maior riqueza do Xingu e graças ao manejo dos índios. O dia que o Brasil descobrir realmente o potencial do pequi, não precisará investir tanto em técnica porque já existe a técnica. A gente pode ver aqui”, diz ele.
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