“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”.
(Henry Ford)
Por Hiram Reis e Silva - Porto Alegre, RS (15/Fev/2009)
- O retorno do colunista
Passada a euforia inicial da conclusão, com total êxito, do Projeto-Aventura Desafiando o Rio-Mar retornamos à faina de continuar informando os nossos leitores de assuntos não só relativos ao projeto em si, mas de temas que envolvam a ‘Nossa Amazônia’ ou à Soberania Brasileira.
É interessante verificar que as pessoas se impressionaram mais pela conquista de um desafio físico do que intelectual e psicológico. Longe de ser uma descida de caiaque pelo Solimões o projeto visava conhecer as peculiaridades locais, observando e analisando a história, flora, fauna, hidrografia e povos da floresta. O uso de caiaques teve como objetivo, baratear o custo da expedição, não utilizar combustíveis poluentes, não afugentar a fauna e facilitar o acesso aos locais mais remotos. O esforço exigido diariamente, que causa espanto a tantos, foi minuciosamente planejado levando em conta a velocidade da correnteza, desempenho do caiaque, locais de parada e poderia ser alcançado por qualquer pessoa de mediana capacidade física.
O mais importante numa empreitada dessa natureza não é o vigor físico, mas o preparo psicológico para que sob quaisquer condições de navegação enfrentadas se possa tomar a decisão adequada em tempo hábil e ainda ao final do deslocamento ser capaz de continuar com as atividades de pesquisa. Como exemplo, cito o deslocamento de
Antes de iniciarmos a descida, dia 1° de dezembro, eu havia lido tudo que podia sobre a região, da geografia à ecologia, do desenvolvimento sustentável à questão indígena, do folclore às lendas, de pesquisas sobre a fauna e flora à história, da antropologia à arqueologia dentre tantos outros temas afins. Busquei me informar através dos relatos históricos desde a epopéia de Francisco de Orellana (1541) até desbravadores como Philipp Von Hutten (1541), Pedro de Úrsua (1560), Francisco Fernandes (1636), Juan de Palácios (1636), Pedro Teixeira (1637), Raposo Tavares (1647), Laureano de
- Chegada em Manaus - 26 de janeiro de 2009
Neste derradeiro dia do Projeto-Aventura parti de Iranduba com destino a Manaus remando lentamente, procurando curtir cada segundo, gravando cada imagem captada pela minha retina, cada som que percutia nos meus tímpanos. As palafitas, as pequenas ‘montarias’ manobradas com invulgar destreza pelos ribeirinhos, as terras caídas, as ilhas que andam, os pássaros... tudo tinha um nostálgico sabor de despedida.
Quando aportamos na praia do 2º Grupamento de Engenharia de Construção (2º GECnst) o Major Maier, Oficial de Relações Públicas do 2º GECnst, havia preparado um aparato formidável para nos receber. Diversos militares, amigos e repórteres nos aguardavam. Ainda na praia, agradecemos à gentileza da recepção e concedemos entrevistas a duas televisões, SBT e a Amazon Sat, e a diversos jornalistas que nos aguardavam. Os canais de televisão divulgaram diversas vezes a matéria durante dois dias. Foi uma receptividade muito maior do que esperávamos. Mais uma vez a competência da equipe de apoio comandada pelo amigo e irmão Coronel Araújo e às Professoras Rosângela, Silvana e Capitão Kowalski se fizeram presentes para que a expedição tivesse a devida divulgação e repercussão.
- Declarações Polêmicas
Minha entrevista concedida ao repórter Mario Bentes do Portal Amazônia, logo após a chegada, foi rebatida pelo presidente da FUNAI e seus asseclas entreguistas. Na oportunidade havia ressaltado o que venho dizendo há quase uma década em minhas palestras a respeito de demarcações de reservas em áreas de fronteira, à conduta de ONGs estrangeiras e à ação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Vamos sublinhar e comentar alguns dos tópicos da polêmica entrevista.
Coronel gaúcho critica Funai e diz que Raposa Serra do Sol é ‘apartheid’
Não é a primeira vez que utilizo o termo ‘apartheid’ e a primeira vez que o utilizei foi em um de meus artigos fazendo referência ao pronunciamento feito pelo senador Mozarildo Cavalcante, em discurso na tribuna, no dia 25 de abril de 2008, quando afirmou, com a lucidez que o caracteriza, que o governo federal está promovendo o ‘apartheid intra-étnico e não apenas entre índios e não-índios. Ao invés de unir as pessoas, o presidente está promovendo a divisão até mesmo entre os grupos indígenas. Não se faz um governo de ajuda às minorias promovendo a separação de cidadãos brasileiros’.
O alienado desgoverno federal e a mídia ‘companheira’ só fazem referência em seus proclames aos seis arrozeiros tentando, com isso, cooptar a simpatia dos mais desavisados sem levar em conta as 468 famílias de humildes cidadãos não-índios que foram escorraçadas de suas terras antes mesmo das indenizações a que fazem jus. Algumas destas famílias que viviam em terras reconhecidas, pela própria união, há mais de cem anos, tinham seus animais mortos, seus bens roubados e eram ameaçadas, constantemente, de morte pelos jagunços do Conselho Indigenista de Roraima (CIR).
Críticas à Funai
A Funai mais parece um governo paralelo demarcando enormes reservas, em área de fronteiras, sem qualquer embasamento antropológico ou legal que a ampare e cria, sistematicamente, empecilhos ao trabalho do Exército Brasileiro e, por extensão, provoca um enfraquecimento na capacidade de controle das nossas divisas. Que república federativa é essa que o governo federal intervém nos estados, contrariando interesses locais, a seu bel prazer?
ONGs estrangeiras
Os Tikunas, Cocamas, Kulinas e outras etnias que contatamos ao longo do Solimões reclamam por apoio de ONGs ligadas à educação e saúde, mas, como relatei a seus caciques, suas áreas são pobres em minérios e, por isso, não despertam qualquer interesse por parte destas organizações.
Teria eu dito alguma coisa que as autoridades ou que os brasileiros já não soubessem para causar tanto alvoroço?
Funai diz que Raposa Serra do Sol não representa ameaça à soberania
“O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Augusto Freitas de Meira, afirmou nesta quarta-feira (28) que a demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, não constitui risco ou ameaça à soberania brasileira. A afirmação do presidente do órgão indigenista brasileiro contraria o que disse o coronel da reserva do Exército Hiram Reis e Silva, em entrevista concedida ao Portal Amazônia na última segunda-feira (26), poucos minutos após seu desembarque em Manaus, ao fim da expedição gaúcha Projeto-Aventura Desafiando o Rio-Mar”.
- Manaus
Permanecemos em Manaus até 4 de fevereiro já que muitas pesquisas, entrevistas e contatos ainda precisavam ser realizados, afinal chegáramos ao fim do trajeto, mas não ao fim do projeto. Fizemos questão, na oportunidade, de agradecer aos amigos Tenente Coronel PM Rômulo, Comandante do Policiamento do Interior (CPI), pelo apoio irrestrito que recebemos da Polícia Militar do Estado do Amazonas, à pesquisadora Vera F. Silva, do INPA, que facilitou os contatos para que conseguíssemos a colaboração do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) e a oportunidade de, durante 10 dias, observar o trabalho de pesquisadores e desfrutar das belezas naturais da paradisíaca Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDS Mamirauá), ao General Jamil Megide Junior comandante do 2º GECnst e ao Coronel de Artilharia Manuel Antonio Zózimo de Abreu comandante do Colégio Militar de Manaus (CMM) que generosamente nos acolheram em suas instalações.
- Porto Alegre - ‘Santo de casa ...’
Partimos às 04h 10min de Manaus rumo a Porto Alegre, com um atraso de mais de uma hora. A viagem, fora isso, correu sem maiores transtornos e pousamos no aeroporto Salgado Filho às 12h35min. A acolhida carinhosa por parte de amigos, familiares e uma representação de alunos do Colégio Militar de Porto Alegre nos emocionou profundamente. A imprensa se fez representar pelo nosso fiel parceiro o ‘Correio do Povo’. Uma recepção bem diferente da cobertura em Manaus onde se fizeram presentes dois canais de televisão e diversos jornais. O ‘Correio do Povo’ publicou a matéria na página 3, dia 15 de fevereiro de 2009, domingo, sob o título ‘Expedição de caiaque chega à Capital’.
- ‘A espera de um milagre’
A chegada em casa foi de muita expectativa embora as notícias não fossem alvissareiras. Senti uma profunda frustração ao ver minha esposa na mesma situação em que a havia deixado, totalmente dependente de cuidados especiais, ela que fora a mola mestra do Projeto. Resignadamente resolvi voltar à minha rotina e a forçar meus nervos, coração, músculos, tudo para dar continuidade ao projeto até alcançar, se Deus permitir, o propósito de vê-la em melhor estado.
- Lago Guaíba e Rio Negro
Na quarta-feira, dia 11 de fevereiro, reiniciei os treinamentos visando a dar continuidade ao Projeto. Os ventos fortes levantavam ondas que cobriam o convés de proa e batiam no meu peito, respingos das águas mornas molhavam minha face dando a nítida sensação de que o Guaíba nos abraçava calidamente após um afastamento de quase quatro meses. O velho e querido rio se alegrava com meu retorno e a recíproca era mais do que verdadeira. A poesia de Arita Damasceno Pettená ressoava no meu cérebro; ‘Que importa que haja ondas revoltas, ameaçando um casco acorrentando. Quero respirar, no último momento, a esperança diluindo-se em espumas, espumas desmanchando-se em esperanças’. A beleza do lago é inigualável e é pena que a maioria dos porto-alegrenses desconheça as potencialidades deste pujante manancial. O Parque Fazenda Itaponã, a Ponta Grossa, a Ilha do Chico Manoel, a Ilha do Junco, a Praia da Faxina, o Parque Itapoã são algumas das paisagens mais belas que já vislumbrei.
- Rio Negro
Ainda não atingimos o Mar como o próprio nome do projeto indica, mas achamos que antes de atingi-lo devemos percorrer um dos três maiores rios do planeta, o Rio Negro. Sua vazão é superior à de todos os rios europeus juntos representando 15% da água que o Amazonas despeja no Atlântico. Os arquipélagos das Anavilhanas e Mariuá, o Parque Nacional do Jaú, maior parque fluvial do mundo, as florestas submersas, o contraste das milhares de praias de areia branca, constituídas basicamente de grãos de quartzo, com as águas pretas do rio, o boto vermelho e a flora exuberante e diversificada proporcionam um cenário de fantástica beleza.
Para esta empreitada vamos contar com o meu amigo e irmão maçom Coronel André Flávio Teixeira. O Teixeira tem uma longa história de vida ligada à Amazônia e seu comportamento pessoal e formação profissional me garantirão, sem sombra de dúvida, uma total tranqüilidade no que tange à afinidade de propósitos e à disciplina que deve ser paradigma em um empreendimento de tal natureza. O rio Negro é menos povoado do que o Solimões e as corredeiras e numerosas ilhas determinam que os parceiros tenham total afinidade na navegação, não se permitindo quaisquer erros de conduta. A data da descida dependerá, principalmente, da Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA) e de conseguirmos recursos através de patrocinadores e amigos que queiram empunhar mais esta bandeira conosco. O apoio da DEPA seria no sentido considerar o projeto de interesse do Sistema Colégio Militar tendo em vista que o melhor período para realização do mesmo seria o mês de julho. Um levantamento inicial aponta, como já temos alguns itens adquiridos para Projeto Solimões, para um montante de R$30.000,00.
Coronel de Engenharia; professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Rua Dona Eugênia, 1227
Petrópolis - Porto Alegre - RS - 90630 150
Telefone:- (51) 3331 6265
Site: www.amazoniaenossaselva.com.br
E-mail: hiramrs@terra.com.br
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