Em Xapuri, terra de Chico Mendes, conflitos ficaram no passado.
Apesar das dificuldades, população vive com mais conforto.
No pequeno estado do extremo oeste brasileiro, o personagem histórico mais lembrado não é o Barão do Rio Branco, que deu nome à capital e conquistou o território acreano para o Brasil. Nas ruas, e principalmente na vida das pessoas que moram na floresta do Acre, o nome inesquecível é o de Chico Mendes, símbolo de resistência e luta pela conservação da Amazônia.
“Chico Mendes foi um grande líder seringueiro que lutou em prol do seringueiro”, comenta um jovem. Assassinado em 1988, Chico Mendes conseguiu organizar os seringueiros para juntos enfrentarem as motosserras.
Desde a morte de Chico Mendes, 20 anos atrás, muita coisa mudou em Xapuri, cidade onde ele morava. Os seringueiros agora vivem em reservas extrativistas criadas pelo governo federal e as pessoas da cidade já não têm medo de falar sobre os problemas que os afligiam. “Eles matavam ou expulsavam. Pistoleiro estava junto com eles”, Manoel Silva, representante da Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Estado do Acre (Cooperacre).
Quem trabalha como seringueiro é antes de tudo um solitário. Percorre de cinco a dez quilômetros por dia, dentro da floresta. Dona Vicenzia, hoje dona de um restaurante em Xapuri, era um desses soldados e não esquece daquele tempo. “Víamos os vizinhos de mês em mês. Se por acaso adoecesse uma pessoa, para morrer mesmo, eu dava três tiros. Ele [o vizinho] corria e sabia que era necessidade”, lembra Dona Vicenzia.
“Tinha doenças e ninguém cuidava, porque era muito distante de médico. A gente considera que a pessoa morreu à mingua, sem socorro”, lembra um morador da região.
Ser seringueiro no Acre já faz parte do passado na vida de muita gente. Muitas pessoas trabalham na fábrica de preservativos masculinos de Xapuri, uma iniciativa do governo federal e estadual, para incentivar a volta do seringueiro à floresta.
“Temos uma meta de alcançar 500 toneladas, o que requer 700 famílias produzindo”, avalia o coordenador de campo da empresa, João Pereira.
O gado, que tem aumentado na região, parece uma alternativa fácil para a sobrevivência dos seringueiros. Os que vivem nas Reservas Extrativistas têm concessão de 30 anos para viver ali, extrair os produtos da floresta e ter, no máximo, 30 cabeças de gado. “O que se está desmatando para criar gado é prejuízo para a floresta”, comenta um morador.
“O desmatamento está associado à criminalidade. É o roubo de terras. É o desmatamento ilegal. E o trabalho escravo. O outro lado é a gente entender o valor que a floresta tem de perto. Se desenvolver o potencial de madeira na Amazônia, talvez a gente possa gerar meio milhão de novos empregos na Amazônia e R$ 6 bilhões por ano entrariam na cadeia econômica da região”, explica o supervisor do programa regional WWF-Brasil, Cláudio Maretti.
Antigos seringueiros estão unidos em várias associações e cooperativas. A Cooperacre compra toda a produção de castanha, borracha e copaíba “Nós estamos vendendo castanha para São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina. São 12 estados”, comenta Manoel Silva.
Para manter a floresta, o seringueiro sabe que precisa acompanhar os ritmos da natureza. O látex só pode ser retirado durante a estiagem. Quando as chuvas começam, a atividade é coletar as castanhas. A outra atividade possível é tirar o óleo da copaíba, uma preciosidade com poderes antiinflamatórios. O óleo só poderá ser retirado outra vez, da mesma árvore, depois de 3 anos.
Na floresta, é o ciclo da natureza que impõe o ritmo da vida. Quando as flores amarelas da castanheira forram o chão da mata é sinal que os ouriços, carregados de castanhas, estão prontos para cair.
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