terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Banco Mundial dará US$ 16 mi para áreas protegidas na Amazônia

O Banco Mundial anunciou nesta quinta-feira a doação de US$ 15,9 milhões para a criação e manutenção de áreas protegidas na Amazônia.

Segundo o banco, o dinheiro será usado pelo Ministério do Meio Ambiente para criar mais 13,5 milhões de hectares de unidades de conservação, além de consolidar 32 milhões de hectares em áreas já existentes.

A verba vem do GEF (Fundo Mundial para o Ambiente) e integra o chamado programa Arpa (Áreas Protegidas da Amazônia). É uma fração dos US$ 141 milhões estimados para a segunda fase do programa, criado em 2002.

Mesmo subfinanciado, o Arpa tem sido a principal fonte de verba para investimentos em algumas unidades de conservação, diante da falta de verba crônica do Instituto Chico Mendes, órgão responsável pela biodiversidade.

Cientistas querem veto a texto-base do novo Código Florestal

Instituições que representam os cientistas do país sugeriram que a proposta do novo Código Florestal seja vetada pela presidente Dilma Rousseff.

Em documento entregue nesta segunda-feira (27) na USP de Piracicaba ao relator do Código Florestal, o deputado ruralista Paulo Piau (PMDB-MG), a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a ABC (Academia Brasileira de Ciências) solicitaram que alguns artigos sejam excluídos do texto "já que eles não poderão mais ser corrigidos no âmbito do legislativo".

Caso a supressão não aconteça, a proposta é que esses trechos sejam vetados.
Entre eles está o artigo 16, que inclui as APPs (Áreas de Preservação Permanente) na conta da Reserva Legal - regiões florestais que devem ser preservadas por lei nas propriedades rurais do Brasil.

Hoje, quem tem terra no campo deve garantir 10% da área em APPs e cerca de 20% em florestas (taxa que varia em cada região do país). Se as APPs entrarem na conta das Reservas Legais, cada propriedade teria de manter 20% da sua área em florestas, e não cerca de 30% como acontece hoje em dia.

Os cientistas também querem suprimir trechos que reduzem a proteção de biomas (como os mangues, no artigo 8) e que permitem a aquisição de florestas em regiões distantes de onde a vegetação nativa foi ilegalmente degradada (artigo 68).

"Se esses artigos não forem retirados do texto do novo Código Florestal, teriam de ser vetados pela presidente Dilma Rousseff", afirmou o biólogo Ricardo Rodrigues, da USP de Piracicaba. Ele é do grupo de trabalho sobre o Código Florestal da SBPC, criado em junho de 2010. "Mas sabemos que esse veto será praticamente impossível", completou Rodrigues.

De acordo com o biólogo, o texto que chegou do Senado à Câmara dos Deputados estava "muito ruim" e, agora, ficou "compreensível". "Mas há muitos pontos que precisariam ser alterados." O documento entregue ontem, preparado pela SBPC e pela ABC, afirma que o texto em discussão apresenta "graves problemas". "Para que não se alegue o aval da ciência ao texto ora em fase final de deliberação no legislativo, a SBPC e a ABC vem novamente se manifestar e reiterar suas posições", afirma o documento.

O Senado aprovou o texto-base da reforma do Código Florestal em dezembro de 2011. A votação do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados está agendada para os dias 6 e 7 de março.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

POLUIÇÃO SONORA NOS OCEANOS ESTRESSA BALEIAS, DIZ ESTUDO

Oceano Pacífico teve um aumento de 10 a 12 decibéis em relação aos registrados na década de 1960
Pesquisas anteriores mostraram que as baleias mudam o padrão de vocalização em um ambiente barulhento, da mesma forma que nós fazemos em uma festa.

 Pesquisadores norte-americanos afirmam que o barulho de navios no norte do oceano Atlântico causa estresse em baleias. Segundo os cientistas do Aquário da Nova Inglaterra, em Boston, os motores de navios emitem um som na mesma frequência com que algumas delas se comunicam. Estudos anteriores já mostravam que os cetáceos mudam padrões de linguagem quando local é mais barulhento. Na pesquisa mais recente, após uma medição das fezes, os cientistas perceberam que o aumento do tráfego de navios eleva os níveis de hormônios relacionados ao estresse.

Os cientistas estudaram as baleias francas do Atlântico norte na região da baía de Fundy, no Canadá. Elas estão na lista de espécies ameaçadas mesmo depois de a população ter vivenciado um pequeno crescimento nos últimos anos.No final do verão, os animais percorrem uma área do Atlântico na costa leste da América do Norte e vão até a baía canadense para se alimentar. Acreditava-se que a caça realizada séculos atrás teria dizimado os animais. Mas pesquisas mais recentes mostram que o declínio ocorreu muito antes, por razões desconhecidas. Rosalind Rolland, do Aquário da Nova Inglaterra, afirmou que a população atual é de 490 baleias, um aumento em relação aos 350 registrados há uma década.

Barulho

Cientistas estudam a baleia franca na baía canadense desde a década de 1980. Mas o último estudo, publicado na revista "Proceedings of the Royal Society Journal B", ocorreu por sorte. Depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington, o tráfego de navios na baía caiu no Atlântico norte. E os cientistas registraram uma queda de 6 decibéis na intensidade do barulho registrada debaixo d'água. Coincidentemente, outra equipe tinha apenas iniciado um projeto de cinco anos para recolher e examinar fezes das baleias francas do Atlântico norte.
As fezes recolhidas pela pesquisa de 2011, no período de menor tráfego, mostraram um nível mais baixo de hormônios glicocorticoides (associados ao estresse) do que o registrado nas pesquisas nos verões seguintes, quando o tráfego voltou aos níveis normais.

Primeira vez

"Esta foi a primeira vez que foi documentado o efeito fisiológico. Afinal, estes são animais de 50 toneladas, o que faz com que seu estudo não seja muito fácil", afirmou Rolland. "Pesquisas anteriores mostraram que [as baleias] mudam o padrão de vocalização em um ambiente barulhento, da mesma forma que nós fazemos em uma festa, mas esta é a primeira vez que o estresse foi registrado fisiologicamente", acrescentou. Apesar dos registros, os cientistas ainda não sabem o quanto isso afeta as baleias. O que se sabe é que o nível de barulho no oceano tem aumentado nas últimas décadas. Uma análise mostrou que os ruídos na região nordeste do oceano Pacífico tiveram um aumento de 10 a 12 decibéis em relação aos registrados na década de 1960.

COP-17 CHEGA A ACORDO HISTÓRICO, MAS ADIA PROTEÇÃO AO CLIMA clima

O acordo foi negociado por meses entre os países emergentes, a União Europeia e os EUA.
"Os países sairão daqui dizendo que foi um grande sucesso, especialmente os Estados Unidos. Mas para o clima não foi", afirmou Samantha Smith, da ONG WWF.

O combate internacional à mudança climática teve hoje seu maior avanço político desde a criação do Protocolo de Kyoto, no fim dos anos 1990. A COP-17, a conferência do clima de Durban, África do Sul, terminou na madrugada deste domingo lançando a base para um futuro acordo contra as emissões de gases-estufa, que envolve metas para Estados Unidos e China, os dois maiores poluidores do planeta --mas só após 2020. Também foi aprovada uma controversa extensão do acordo de Kyoto, que envolve apenas a União Europeia e mais um punhado de países e que por enquanto não tem nem intervalo de tempo definido para vigorar.

E foi lançado o chamado Fundo Verde do Clima, que tem a promessa de US$ 100 bilhões anuais a partir de 2020 para combater as emissões e promover ações de adaptação à mudança climática nos países em desenvolvimento. Embora não façam rigorosamente nada para combater o aquecimento global hoje - exceto manter os compromissos fracos que os países já haviam adotado na conferência de Copenhague, em 2009, e que deixam o mundo no rumo de um aquecimento de 2,5°C a 4°C neste século - as decisões adotadas em Durban têm caráter histórico.

A principal delas, um texto de uma página e meia batizado de Plataforma de Durban, estabelece um calendário para criar "um protocolo, outro instrumento legal ou um resultado acordado com força legal" em 2015, que possa entrar em vigor até 2020. Por esse instrumento, todos os países do mundo terão de se comprometer a metas obrigatórias de redução de emissões. Trata-se de uma revolução política no âmbito da Convenção do Clima da ONU. Nas palavras do negociador-chefe americano, Todd Stern, a Plataforma de Durban "desbasta a barreira que existia entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento" e que causou a divisão do planeta entre ricos e pobres em Kyoto. Foi essa divisão que impediu que o Senado americano ratificasse o acordo assinado no Japão e que causou, mais tarde, o impasse com a China que fez fracassar a conferência de Copenhague.

O acordo foi negociado por meses entre os países emergentes, a União Europeia e os EUA, e costurado durante vários dias em reuniões secretas no hotel Hilton, em Durban. Na madrugada de domingo, porém, ele ameaçou ruir. A Índia exigiu que fosse acrescentada no texto uma opção de ação mais frouxa, de modo a que ela não precisasse se comprometer com metas. Foi criticada por europeus e pelas nações-ilhas, que não só pediam um instrumento com força de lei mas também exigiam sua ratificação em 2018, não 2020. A presidente da COP, a chanceler sul-africana Maite Mashabane, suspendeu a sessão e pediu que a comissária europeia do Clima, Connie Hedegaard, e a ministra do Ambiente da Índia, Jayanthi Natarajan, fizessem "uma rodinha" para encontrar uma solução para o conflito.

O ato de criatividade retórica que salvou Durban veio do embaixador brasileiro Luiz Alberto Figueiredo, que mais cedo havia brigado com os europeus por ter defendido, alinhado com os emergentes e com os EUA, a inclusão da expressão mais fraca "resultado legal". Figueiredo propôs trocar "resultado legal" por "resultado acordado com força legal" - uma mudança aparentemente boba, mas que salvou a negociação. "Temos de nos orgulhar muito, este é um momento histórico", disse Figueiredo a jornalistas após o fim da COP mais longa da história, com o sol já raiando em Durban.

"Esta plataforma tem uma chance real de se tornar uma conquista ainda maior que o Mandato de Berlim", disse Hedegaard, em referência ao processo legal presidido em 1995 pela então ministra do Ambiente alemã, Angela Merkel, e que deu origem a Kyoto. "Os países sairão daqui dizendo que foi um grande sucesso, especialmente os Estados Unidos. Mas para o clima não foi", afirmou Samantha Smith, da ONG WWF.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Mudança climática altera hábito de animais na África devido à seca


Espécies que ficam na região do Sahel migram em busca de água e comida.
Ambientalistas trabalham para combater massacre de animais selvagens.

Os humanos não são as únicas vítimas da falta de chuvas na última temporada de precipitações na faixa do Sahel -- um corredor de transição entre o sul do deserto do Saara e terras férteis do continente africano. A fauna de países como Burkina Fasso também está mudando seus hábitos em sua busca por água.

"Notamos uma migração de animais fora de seu território no leste e nordeste [do país]. A escassez de água causou estas migrações antecipadas de elefantes e búfalos. Não será surpresa se os leopardos seguirem os leões e os búfalos", advertiu Urbain Belemsobgo, representante do Ministério da Fauna. Os búfalos estão há alguns meses rondando alguns povoados do leste do país em sua luta para beber água: "Algumas vezes seguem o gado para encontrar o pasto", explica Arzouma Tindano, morador da localidade oriental de Bogandé.

De acordo com Celestin Zida, funcionário do Ministério do Meio Ambiente no leste do país, "os leões abandonaram seu habitat e mataram os macacos da região". Além disso, Zida relata que vários moradores reclamam que os animais selvagens destruíram seus celeiros.

Contra caça predatória
Até o momento, a campanha feita por este ministério para a sensibilização com a fauna evitou o massacre dos animais, porém não impediu que um aldeão fosse ferido. "Temos que fazer de tudo para salvar esses animais porque, após sua morte, algumas espécies irão desaparecer", alertou Zida.

O Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável advertiu em dezembro sobre as consequências "desastrosas" que a busca desesperada por água poderia acarretar, incluindo potenciais conflitos entre humanos e animais.
Em novembro, o Governo já notara alterações pelo desaparecimento dos charcos usados pela fauna local para beber água. Pierre Kafando, coordenador nacional do Parque Transfronteiriço W (chamado assim pelo formato do rio Níger ao passar por essa região), garantiu que se trata de uma "situação catastrófica" à qual alguns pequenos mamíferos, como veados e alguns primatas, não conseguirão sobreviver.

"Dentro do parque (de 10 mil quilômetros quadrados e partilhado com Benin e Níger) temos sempre uma média de 950 milímetros de chuva por metro quadrado, mas este ano choveu entre 600 e 650 milímetros", informou Kafando.

Em busca de água
Segundo o responsável da parte burquinense do Parque W, os elefantes "inteligentes" cavam poços nas áreas em que a água está mais perto da superfície, "mas estes poços acabam virando armadilhas para búfalos, que caem neles e morrem", advertiu Kafando.

No lado burquinense, deveria existir um charco a cada 10 quilômetros, mas, de acordo com Kafando, há espaços de entre 30 a 50 quilômetros sem uma só lagoa, enquanto um elefante adulto precisa consumir cerca de 200 litros de água por dia.

O Parque W é o lar da maior concentração de búfalos da África Ocidental, com cerca de 10 mil a 15 mil indivíduos, além de grandes antílopes, leões, leopardos e guepardos. Também estão ameaçadas cerca de 450 espécies de pássaros. Por enquanto, o Executivo burquinense gastou US$ 180 mil em construção de charcos. Para aliviar a situação, o Banco Mundial destinou, mediante um plano de emergência, US$ 700 mil para a construção de cerca de 30 lagoas artificiais que serão cheias com água transportada dos rio próximos por vários caminhões até o Parque W.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

BNDES começa a operar crédito para adaptação a mudanças climáticas

Empréstimos fazem parte do Fundo Clima, do Ministério do Meio Ambiente.
Recursos disponíveis podem atingir R$ 560 milhões em 2012.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) lançaram nesta segunda-feira (13) linhas de crédito para projetos de redução do impacto e adaptação às mudanças climáticas.

Elas fazem parte do Fundo Clima, programa do MMA lançado em 2011. O volume inicial disponível para empréstimos é de R$ 200 milhões, liberados no orçamento da União de 2011, e pode atingir R$ 560 milhões em 2012. Sete áreas podem receber o financiamento da linha de crédito do Fundo Clima, como projetos de transporte coletivo eficiente, que reduzam a emissão de poluentes e melhorem a mobilidade urbana em regiões metropolitanas, e atividades relacionadas à produção e pesquisa de energias renováveis, como eólica, solar, o uso de biomassa e dos oceanos.

Além disso, podem buscar financiamentos as áreas de máquinas e equipamentos eficientes, carvão vegetal, combate à desertificação e atividades que façam aproveitamento energético de resíduos, como o estímulo à geração de energia a partir de lixo urbano em cidades-sede da Copa do Mundo. As taxas de juros vão começar em 2,5% ao ano e o prazo de financiamento pode alcançar 25 anos. O BNDES poderá participar até 90% do valor dos itens financiáveis.

"A linha de crédito do Fundo Clima é um instrumento importantíssimo para que Brasil consiga alcançar compromissos nacionais voluntários de redução de emissão de gases efeito estufa. Ele oferece um forte estímulo para que empresas e setor público realizem empreendimentos visando reduzir as emissões, melhorar a eficiência e combater ou se adaptar a mudanças climáticas, como desertificação", afirmou Mauro Pires, secretário de mudanças climáticas do MMA.

Fundo Clima
O objetivo do Fundo Clima é reduzir as emissões dos gases do efeito estufa, através do estímulo a investimentos verdes pela iniciativa privada e pelos governos municipais e estaduais. Seus recursos são provenientes de uma parcela de até 60% da Participação Especial do Petróleo, recebida pelo MMA. A maior parte será concedida na forma de empréstimos do BNDES. Outra parte, sob gestão do ministério, será investida de forma não reembolsável, ou seja, não é preciso devolver o dinheiro. Em 2011, o volume de recursos investidos na modalidade não reembolsável foi de R$ 30 milhões.

Segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, “o Fundo Clima é um dos principais instrumentos da política brasileira de mudança do clima e até 2014 seus recursos poderão atingir até R$ 1 bilhão”. Além dela, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, participou do lançamento da linha de crédito.

'Violência na Amazônia pode crescer', afirma diretor do Greenpeace Brasil

Novo Código Florestal pode elevar conflito agrário, diz Paulo Adario ao G1.
Ele foi escolhido pela ONU como 'Herói da Floresta' na última semana.

Escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como "Herói da Floresta", devido aos 15 anos de trabalho para preservar a Amazônia, o diretor do Greenpeace no Brasil, Paulo Adario, afirma que durante este período já sofreu ameaças de morte e precisou de proteção.

Segundo ele, as mortes de pessoas que lutavam pela floresta, como a irmã Dorothy Stang e o casal de extrativistas, José Cláudio Ribeiro, e sua companheira, Maria do Espírito Santo, foram momentos difíceis. Porém, Adario afirma que a violência e a impunidade ainda existem no interior da Amazônia e pode piorar.

Em entrevista ao Globo Natureza, ele criticou o “desmonte de conquistas” e bons resultados para a floresta e disse que a aprovação do Código Florestal pode elevar os conflitos. “A sociedade está aceitando isto com naturalidade".

Confira os principais trechos da entrevista a seguir:

G1 - Quais foram os momentos mais difíceis nesses 15 anos de trabalho na Amazônia?
Paulo Adario - 
Houve muitos momentos difíceis. Sofri ameaças de morte, em 2001 e 2002, que foram muito complicadas. Recebi proteção do governo brasileiro, durante 24 horas. A morte da Dorothy [Stang, missionária americana assassinada no Pará em 2005] foi outro momento duríssimo. A gente se sentiu muito tocado, porque ela estava condenada a morrer e nossa ajuda não chegou a tempo. Ia me encontrar com ela no dia que ela morreu. Foi um dia de desespero, de medo. Várias outras lideranças que eram nossos parceiros morreram, como o Dema e o Brasília. Agora, o Zé Cláudio [assassinado no Pará em 2011, junto com Maria do Espírito Santo].

G1 - Você trabalha no limite?
Adario - 
O tempo todo foi sempre trabalhar no limite. Isso leva a um aprendizado sobre como manejar o risco. E isso estabelece recompensas. Em áreas madeireiras, por exemplo, me perguntam: você é o Paulo Adario, aquele que adora se amarrar na árvore? Uma vez, um madeireiro falou que ia me cortar junto com a árvore. Eu comecei a rir e disse: você vai estragar sua motosserra, porque minha cara é dura. Começamos todos a rir e pudemos dialogar. O ambientalista tem preconceito que o cara é bandido, que ele vai te matar. Já o cara pensa que você é um louco varrido, muitas vezes ele acha que você não é do Brasil, acredita que tem um discurso contra o desenvolvimento. Mas, de repente não é nada disso. Você senta e conversa. Somos todos brasileiros.

G1 - Além do senhor, José Cláudio e Maria do Espírito Santo também foram homenageados pela ONU. A irmã de Maria do Espírito Santo discursou que a Amazônia é manchada de sangue e essa mancha continua se espalhando. Ainda existe um clima de medo entre os “heróis da floresta”, inclusive os anônimos?
Adario - 
Existe, principalmente nas áreas remotas da Amazônia. Hoje já está melhorando, existe uma governança crescente, o que faz você se sentir bem. Mas a violência ainda existe, porque ainda existem os mesmos problemas históricos que levam à violência. Como a disputa é resultado do avanço da expansão madeireira ou agropecuária, essas comunidades [tradicionais e povos indígenas] tendem a defender seu território e são as primeiras vítimas. Além disso, [a Amazônia] é uma área remota, distante da opinião publica. E existe a impunidade. A chance da pessoa que mata ser condenada é muito pequena. Então, vale a pena matar quem está na floresta. Os dados de violência no Pará são assustadores. Com o Código Florestal, a violência deve aumentar porque o conflito vai aumentar.

G1 - Quais são as maiores ameaças à Amazônia hoje?
Adario - 
Está havendo um processo de desmonte de conquistas que estavam dando resultados muito bons para o Brasil e para a floresta. Uma série de legislações foi colocada em funcionamento, além do próprio Código Florestal, como o projeto pelo qual o Senado evoca para si a palavra final sobre a demarcação de terras indígenas. Outra grande ameaça é o aumento da ilegalidade na extração madeireira. Além disso, o agronegócio brasileiro ficou mais sofisticado do ponto de vista operacional, tomou comissões de meio ambiente do Congresso. E a sociedade está aceitando com naturalidade.

G1 - E quais foram as melhores notícias sobre a Amazônia nesses últimos 15 anos?
Adario - 
São várias. Uma delas é que a sociedade civil passou a ter acesso a sistemas de monitoramento do desmatamento. Antes, o INPE [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] era uma caixa preta. Isso também ajudou a mídia brasileira a ficar muito mais consciente sobre o desmatamento, o tamanho do impacto, suas causas. Outras coisas positivas são o aumento da consciência dos setores empresariais, a criação de áreas protegidas e a demarcação de áreas indígenas, a melhoria da articulação entre grupos locais e lideranças comunitárias com os governos.

G1 - Ao receber o prêmio, o senhor disse “occupy Rio”. Há uma conexão entre os movimentos “occupy” e a pauta ambiental a ser tratada na Rio+20?
Adario - 
O “occupy Rio” saiu na hora do discurso, não foi previsto. Mas acho que é isso mesmo. Os governos estão muito pouco envolvidos com o processo da Rio+20. Há um desânimo geral, ninguém está nem aí, porque o foco é a crise econômica. Então, não existe ainda uma mobilização suficiente para que a Rio+20 seja um sucesso. A gente tem que trazer as pessoas para a rua, levá-las para o Rio, para que digam aos governantes que eles sabem o que tem que ser feito e que elas estão lá para cobrar. Essa é a única maneira de levar importantes líderes mundiais para o Rio e de fazer com que eles levem a sério a agenda da reunião.

G1 - Em outro momento do seu discurso, o senhor falou que os governos sabem o que precisa ser feito, mas falta força e liderança. O que é preciso para que isso ocorra?
Adario - 
Falta uma decisão coletiva. Cada país empurra o problema para o outro. Está faltando uma compreensão dos governos de que vivemos em uma comunidade global. Também faltam decisões concretas para priorizar medidas e recursos sustentáveis. É preciso parar de colocar dinheiro em energia nuclear e em carvão e investir em energias limpas.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Inpa (AM) avalia efeitos de mudanças climáticas em população de peixes


Pesquisa diz que tambaqui se adaptará para sobreviver no novo ambiente.

Espécie poderá sofrer inibição do crescimento.

Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), intitulado "Crescimento do tambaqui em cenários de mudanças climáticas", analisa como as condições ambientais daqui a cem anos poderão afetar o crescimento das espécies do tambaqui, um dos principais peixes da região. De acordo com a pesquisa, a espécie desenvolverá mecanismos adaptativos para sobreviver ao novo ambiente.

Segundo os pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Centro de Estudos de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (Adapta), e do Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (LEEM) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), o objetivo do projeto é analisar os efeitos das condições ambientais a partir das previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para 2100. "Nunca se testou o efeito dos cenários previstos para daqui a cem anos sobre organismos vivos porque é impossível recriar uma paisagem exatamente igual à que ocorrerá no futuro. Entretanto, podemos submeter os organismos vivos a uma atmosfera parecida", explicou a pesquisadora Vera Val.

Durante o estudo, diversas espécies desenvolveram mecanismos adaptativos para sobreviverem às mudanças ambientais naturais, como o aumento do gás carbônico presente na água. "Os experimentos que estamos realizando vão esclarecer à sociedade o que pode acontecer com organismos aquáticos submetidos a temperaturas mais elevadas e com níveis elevados de CO2, em cenários cuja umidade poderá ser maior ou menor", esclareceu Vera.

Com esse aumento da temperatura, o tambaqui poderá desenvolver perturbações fisiológicas que ocasionarão, entre outros desequilíbrios, uma inibição do crescimento. "Se o aumento da temperatura e do CO2 resultar em diminuição do crescimento do tambaqui, a população ribeirinha será afetada negativamente pela redução na oferta de proteína dessa espécie", expôs.

Marcas gigantes no solo da Amazônia intrigam cientistas


Equipe de reportagem visitou geoglifos no Acre e no Amazonas.
Confira mapa de satélite com os misteriosos desenhos ancestrais.

Elas passaram séculos escondidas pela floresta. Agora, com o desmatamento para a criação de gado, estão aparecendo cada vez mais. Os geoglifos são formas perfeitas escavadas no solo, espalhadas pelo extremo oeste da Amazônia. Serão vestígios de uma sociedade desconhecida? Ou restos do lendário reino de Eldorado, com que tantos exploradores sonharam?

Segundo o paleontólogo Alceu Ranzi, da Universidade Federal do Acre, os geoglifos formavam um grande sistema que se estendia por centenas de quilômetros nessa região da Amazônia. Ranzi fazia parte da equipe que descobriu os desenhos, em 1977. Mas foi só nos últimos tempos que o número de achados disparou, graças a fotos de satélite disponíveis na internet. Já são quase 300 geoglifos - de alguns, os pesquisadores nunca chegaram perto.

Apesar do nome, Boca do Acre fica no Amazonas. É para lá que foi a equipe de reportagem do Fantástico, para ver de perto alguns geoglifos que até então só haviam sido observados pelo pesquisadores por imagens de satélite. Em pouco tempo de voo é possível ver as formas - algumas bem nítidas, outras parcialmente encobertas pela mata. “Normalmente são quadrados e círculos. Temos octógonos também, hexágonos...”, cita Ranzi.

Para Jacob Queiroz, 93 anos, dono de terras onde existem algumas figuras, elas não podem ser simples obras da natureza. “Isso aqui foi gente que fez. Trabalho de engenheiro”, comenta.

Revolução
Dentro de um dos canais que forma as figuras, é possível ver que a terra foi escavada e cuidadosamente empilhada do lado de fora. Por isso, chegou-se a pensar que as valas seriam trincheiras da revolução acriana, a revolta do início do século 20 contra a dominação da Bolívia no território.

Mas a teoria das trincheiras está fora de cogitação. As análises geológicas publicadas mostram que os geoglifos são muito mais antigos: do século 13.  Outra questão intrigante é como os habitantes daquela época conseguiram fazer isso dentro de uma floresta densa. “Imagino que essa região da Amazônia devia estar passando por um problema climático”, diz Ranzi. Os cientistas têm uma hipótese: na época da construção dos geoglifos, a Amazônia pode ter passado por uma seca muito forte, que transformou a floresta numa imensa savana, parecida com o cerrado brasileiro.

Falta ainda a principal peça do quebra-cabeça: que tipo de sociedade projetou esses monumentos? Certamente devia ter um certo grau de organização para elaborar esses monumentos. As principais teorias sobre os povos que viviam nesta região antes de o Brasil ser descoberto dizem que esses povos jamais teriam tamanha sofisticação, eram nômades, ou seja, não passavam muito tempo no mesmo lugar.


Para Jacó Piccoli, antropólogo da Universidade Federal do Acre, é possível que haja uma relação estreita com os antepassados dos índios atuais. “Mas podem ter sido também outras populações que habitaram a região”, pondera. É difícil estabelecer uma origem clara para os geoglifos, porque não se encontram pistas nas tradições dos índios que vivem hoje na região.

Na falta de respostas, os moradores abraçam o sobrenatural. Seu Jacob conta que, estranhamente, as valas nunca alagam quando chove e que, do chão, sobe uma espécie de zumbido. “Uuuuuu.... que nem uma abelhal”, conta.

Também não faltam suposições delirantes, como, por exemplo, que os geoglifos seriam marcas deixadas por extraterrestres.  Quando olham para a imensidão da floresta amazônica preservada, os cientistas ficam imaginando quantos geoglifos, quantos desenhos geométricos estão escondidos debaixo das árvores. Eles estimam que nem 10% deles tenham sido revelados.

Aldeia kuikuro, no Xingu, desenvolve plantação de pequi há séculos

Engenheiro florestal estima que região tenha 14 mil pés da árvore.

Índios da etnia falam língua da família caribe, herança de antepassados.

Importante para vários povos indígenas no Brasil, o pequizeiro tem função estratégica entre os kuikuros, no Parque Indígena do Xingu. A reserva em Mato Grosso tem 2,6 milhões de hectares, equivalente ao de Sergipe, e fica em uma zona de transição do Cerrado para a Amazônia.
No parque, cortado pelo Rio Xingu, moram 5 mil índios de 14 etnias. A reportagem entrou no local pelo sul da reserva, que faz divisa com o município de Canarana, em MT. O caminho segue por 200 km, por meio do Rio Coluene.

A aldeia kuikuro fica a cerca de 6 km do rio e no local fala-se uma língua da família caribe, herança da época em que seus antecedentes viviam nas fronteiras do Brasil com a Venezuela e a Guiana. São mais de 700 índios, a maior e uma das mais antigas tribos do Xingu. Acredita-se que a migração deles para a região se deu há mais de mil anos.

Na época, eles eram nômades e viviam só do extrativismo. Quando se fixaram no Xingu, os kuikuros passaram a praticar a agricultura. As ocas chamam a atenção de quem visita as aldeias do Alto Xingu. São construções gigantescas. As maiores chegam a ter 25 metros de cumprimento.

Segundo o cacique Afucacá, a cobertura é de sapé. “Em época de chuva, não chove [dentro]. Fica bem fresquinho dentro”, lembrou. O interior das ocas é escuro porque não há janelas. As únicas aberturas são duas portas, uma à frente e outra nos fundos. Cada oca é habitada pela linhagem completa da família, com avós, filhos e netos.

Quando os indígenas se casam, quem sai da casa é o homem. A divisão do espaço é muito simples: nas laterais são armadas redes de dormir e no centro fica a cozinha. O cacique Afucacá defende que sua função é lutar para não deixar morrer a cultura dos kuikuros. “Dentro da aldeia, nossa tradição está viva. O colar de caramujo, que estou usando, faz parte da tradição”.

Aos poucos, os kuikuros vão abrindo as portas da aldeia para a cultura dos brancos. No lugar já tem até equipe de TV, treinada por técnicos da organização não-governamental (ONG) Vídeo nas Aldeias que, em parceria com o Museu Nacional do Rio de Janeiro, ensinou os índios a operarem câmeras de filmagens para registrar sua cultura. Na aldeia, a colheita do pequi é celebrada com brincadeiras e muita dança. A fruta é rica em vitamina A e também contém vitaminas C e B, além de proteínas e outros nutrientes. Com sua polpa, as mulheres fazem vários pratos. Um deles é a sopa de castanha de pequi, salgada, com pimenta verde, água e castanha cortada em pedacinhos.

O plantio da semente da fruta é feito toda vez que nasce um novo indivíduo na aldeia. A tradição leva em conta que o pai precisa semear árvores para garantir a alimentação do filho no futuro.

“Quando crescerem filhos e netos, a gente passa para eles cuidarem do plantio. Eu vou plantar 50 pés para minha caçula e ela vai poder começar a colher os frutos daqui uns dez anos”, diz Afucacá. O plantio do pequi é feito sempre no meio do mandiocal. Os índios exploram a roça por três anos e, depois, deixam a área só para a formação do pequi.

Por conta da tradição, há diversas plantações bem antigas na aldeia. Segundo o engenheiro agrônomo Marcus Schmidt, do Instituto Sócio Ambiental (ISA), a estimativa é de que existam cerca de 14 mil pés de caqui na região. "É a maior riqueza do Xingu e graças ao manejo dos índios. O dia que o Brasil descobrir realmente o potencial do pequi, não precisará investir tanto em técnica porque já existe a técnica. A gente pode ver aqui”, diz ele.

Peru faz proposta para receber financiamento do Fundo Amazônia

Asfaltamento de rodovia exige maior controle de desmatamento. 
Projeto custaria US$ 4,4 milhões ao longo de 2 anos ao fundo brasileiro.

O governo da região de Madre de Deus, no Peru, apresentou ao Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) uma proposta de projeto para ser financiado pelo Fundo Amazônia. A iniciativa visa melhorar o controle do desmatamento na área por onde passa a Rodovia Transoceânica, recém-pavimentada, que liga o Brasil ao Oceano Pacífico.

O projeto, de cerca de US$ 5 milhões para 2 anos, prevê o uso de US$ 4,4 milhões do fundo brasileiro. A proposta ao Fundo Amazônia foi feita pelo secretário de Meio Ambiente de Madre de Deus e do secretário de Meio Ambiente do Acre na última terça-feira (28).

O estado brasileiro está apoiando a região peruana, com a qual faz fronteira, na formulação do projeto. Como explica o superintendente de Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Bernhard Smid, que trabalhou na proposta, o financiamento pode ser positivo também para o Brasil, por se tratar de uma área próxima ao país. “Seguramente beneficia os dois lados porque é uma região de comércio com o Brasil. Existe um contato fronteiriço e devido a isso é que houve essa necessidade de asfaltamento da rodovia”, explica.

Segundo Smid, caso seja aprovado, o projeto seria o primeiro que o Fundo Amazônia financiaria fora do Brasil. Gerido pelo BNDES, o Fundo Amazônia reúne iniciativas de desenvolvimento sustentável na região e já aprovou 13 projetos no valor de R$ 189 milhões.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), os projetos aprovados focam em medidas de contenção do desmatamento na Amazônia e já abrangem, juntos, uma área superior à da Alemanha e Reino Unido somados.


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