segunda-feira, 29 de junho de 2009

Madeireiras clandestinas exploram floresta avaliada em R$ 30 bilhões




Operação do Ibama tenta desarticular quadrilha de devastadores no PA.
Cerca de 40 mil metros cúbicos de madeira já foram apreendidos.


O alvo criminoso escolhido na última semana pelo Ibama são as madeireiras clandestinas que operam na região oeste do Pará. Elas cortam árvores em uma área ainda preservada, onde o órgão ambiental calcula que existam cerca de R$ 30 bilhões em madeira.

A operação ocorre em conjunto com a Polícia Federal e a Polícia Civil do Pará. Como as madeireiras usam balsas para transportar a madeira, os fiscais estão tentando barrar a circulação de barcos com carregamentos clandestinos, que usam como rota principal o rio Curuá-Una, um dos afluentes do Amazonas.

Até agora, agentes do Ibama e policiais da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado, apreenderam mais de 40 mil metros cúbicos de madeira nobre – o suficiente para carregar 1.600 caminhões. Quatro pessoas foram presas. A carga está avaliada em aproximadamente R$ 100 milhões. Várias armas foram apreendidas no acampamento.


Por determinação do Ministério do Meio Ambiente, a Polícia Federal, a Força Nacional de Segurança e o Ibama iniciaram uma grande operação de desarmamento. A ideia é desfazer o sistema de proteção a crimes ambientais, impedindo a atuação de milícias que dão apoio à exploração ilegal de madeira na região oeste do Pará.


"Nós temos ciência de que existem acampamentos com pessoas fortemente armadas na região. A gente pretende desarticular essas quadrilhas para poder fazer a apreensão dessa madeira e retirar essa madeira de lá”, explicou Gustavo de Podestá, chefe de Fiscalização do Ibama em Santarém.



terça-feira, 23 de junho de 2009


Sr. Joaquim Martins, Patriarca da RDS Mamirauá

Por Cel Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 22 de Junho de 2009.

Na minha descida pelo Rio Solimões, de caiaque, conheci diversas pessoas fantásticas cuja lembrança guardarei, eternamente, com muito carinho. Uma delas foi a do Sr. Joaquim Martins, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá.

- RDS - Pequeno histórico

Até a década de 80, o macaco branco de cara vermelha, conhecido como uacari, só havia sido descrito no século XIX pelo naturalista inglês Henry Walter Bates. Em março de 1983, um biólogo paraense chamado José Márcio Ayres parte de Tefé no barco Gaivota, financiado por seu pai, para pesquisar os uacaris. Depois de diversas tentativas frustradas, Ayres aportou o Gaivota na Boca do Mamirauá. Após anos estudando os curiosos primatas, seu estudo foi publicado em 1986 e, em 1990, mais de um milhão de hectares da várzea, incluindo a área onde havia desenvolvido seu estudo, foram declarados pelo governo estadual como Estação Ecológica Mamirauá. Em 1992, foi criada a sociedade civil Mamirauá, com o intuito de coordenar pesquisas e trabalhos de extensão na reserva e, em 1996, a ONG publicou seu plano de manejo, visando o uso sustentável dos recursos naturais e o policiamento dos recantos mais longínquos da reserva. Ato contínuo, o governo estadual consagra estes princípios, criando a Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá.

- A Várzea

Em decorrência das inundações periódicas, o rio Solimões, rico em nutrientes, proporciona o habitat ideal para a reprodução e berçário para mais das 300 espécies de peixes da reserva. Por outro lado, o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos na Amazônia e a consequente procura por proteína barata, tornam a opção pela pesca nos lagos e rios uma ameaça, tanto ao ecossistema de Mamirauá como de todos os outros.

- Pesquisa científica

O governo brasileiro, através do Conselho Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, e de doadores internacionais, financia projetos como o de estudo ecológico do pirarucu, a rádio-telemetria dos botos e do jacaré-açu, dentre outros, tornando o Mamirauá um centro de excelência para estudos relativos à floresta alagada.

- Extensão

Junto à população ribeirinha são desenvolvidos projetos de saúde, educação ambiental e técnicas agrícolas, com a experimentação de novas técnicas produtivas de árvores frutíferas, planos de manejo madeireiro sustentável e artesanato tradicional envolvendo cerâmica e cestaria, além da operação de uma rádio comunitária. Reputamos a RDS Mamirauá como modelo, tendo em vista o envolvimento democrático da população ribeirinha na absorção e aplicação de novas técnicas ambientais, no controle e fiscalização dos recursos naturais da reserva e a modelar ação norteadora do Instituto como organização científica de excelência, apresentando novas alternativas sustentáveis. A corrupção que verificamos em toda a nação, nos órgãos encarregados de fiscalizar os atos lesivos ao patrimônio genético e ambiental do país, mostra ser Mamirauá um modelo que deu certo e que está em constante reformulação e aperfeiçoamento.

- Senhor Joaquim Martins

Na minha chegada à Boca do Mamirauá (27 de dezembro de 2008) conheci o decano da Comunidade e um dos alicerces do Projeto Mamirauá. O senhor Joaquim, muito lúcido e falante nos seus mais de setenta anos bem vividos, contou-nos uma série de ‘causos’ e piadas regionais. Depois de providenciar que um de seus filhos nos acompanhasse até o Flutuante Mamirauá, onde ficaríamos hospedados. Seu Joaquim ficou de nos visitar na segunda-feira para que o acompanhássemos em uma pescaria.

O líder e patriarca da Comunidade da Boca do Mamirauá, como havia prometido, chegou cedo na segunda-feira (29 de dezembro de 2008), acompanhado do ‘Lulinha’, um de seus 38 netos. A chuva que começara à noite só parou por volta das 10h00. O Senhor Joaquim ficou proseando e contando suas histórias. É impressionante o vigor físico, a lucidez deste ribeirinho que é um dos esteios da RDS Mamirauá. Quando a chuva diminuiu, acompanhei-o na pescaria.

Seu Joaquim, leve e silenciosamente, afundava o remo na água e manobrava a canoa por entre vegetações aquáticas do cano do Mamirauá. Viu, ou sentiu, o bululu e o leve movimento das águas (siriringa) e, sem pressa, pressentiu a direção seguida pelo cardume de aruanãs, ergueu o braço empunhando o arpão de bico pela haste e num impulso rápido e preciso lançou o arpão a alguns palmos à frente da leve ondulação na superfície. Seu Joaquim sabia que a ‘siriringa’ era provocada pelo cardume que nadava próximo a superfície. A haste fincou o bico de ferro em forma de flecha no corpo da aruanã mantendo preso o formoso peixe às farpas do bico de ferro do arpão que se soltou da haste. O animal foi recolhido com a mesma destreza com que fora arpoado.

Bululu - pipocar de borbulhas.

Siriringa - insignificante movimento da superfície da água provocado pelo deslocamento dos grandes peixes nas camadas inferiores.

Arpão de bico - formado por uma haste de madeira nobre de mais de dois metros de comprimento e, em cuja ponta é adaptado um bico de ferro em forma de ponta de flecha. A ponta do bico tem aproximadamente três milímetros de raio e vai aumentando o seu diâmetro para cerca de sete milímetros até o chamado ‘alvado’ onde é engatada a ponta inferior da haste. Ao bico é amarrada uma corda de fibra vegetal de mais de uma dezena de metros e a outra ponta da corda é amarrada na popa do barco. Depois de arpoado o peixe o bico se solta da haste e esta faz o papel de bóia; o pescador pode conduzi-lo, depois de cansado, como se faz com uma linha de pesca.

Novamente, atento aos mais leves movimentos na água ele se aproximou de um grande aglomerado de capim-memeca com a intenção de pescar um tambaqui. Usando um ‘enganador’, um tosco caniço com um peso amarrado na ponta da linha, batia na água simulando a queda da ‘arati’, frutinha que é o objeto de desejo do saboroso peixe. Na outra mão usava, num igualmente tosco caniço, a frágil ‘arati’ como isca. Se usasse a ‘arati’ para atrair o peixe ela se desprenderia do anzol. Não demorou muito para que um grande tambaqui fosse puxado para a canoa pelo seu Joaquim. A destreza no arpoar e o domínio das técnicas de pescaria justificam a fama de grande pescador que ele tem. Retornamos ao Flutuante e ele nos presenteou com a aruanã e metade do tambaqui que foi assado pelo zelador Ivo e saboreado no almoço.

Guardarei sempre, na lembrança, a imagem daquele sábio, rijo e alegre ribeirinho e dos ensinamentos que ele me transmitiu. A leitura sutil que ele fazia da flora e da fauna ou dos sutis movimentos das águas foi uma lição que guardaremos com carinho eternamente.


Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br


segunda-feira, 22 de junho de 2009


Cacique Tikuna João Farias Filho

Por Cel Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 21 de Junho de 2009.

Na minha descida pelo Rio Solimões, de caiaque, conheci diversas pessoas fantásticas cuja lembrança guardarei, eternamente, com muito carinho. Uma delas foi a do Cacique Tikuna João, da Comunidade de Feijoal. O cacique João é um líder nato e exerce seu comando com muita sabedoria e bom senso. Lúcido e inteligente está a par dos acontecimentos nacionais e internacionais sobre os quais discorre com fluência e conhecimento impressionantes.

- Tikunas

Meu contato com os bravos e altivos Tikunas foi extremamente marcante e por isso mesmo dediquei grande parte de minhas pesquisas e labor procurando retratar estes guerreiros que representam a maior e uma das mais belas etnias indígenas brasileiras. Ao contrário de deletérios grupos que se autodenominam como nações, os Tikunas são cidadãos brasileiros com direito de escolher seus representantes políticos bem como as lideranças de suas Comunidades pelo voto. O apharteid que se verifica, sobretudo, em Roraima hostilizando os membros mestiços do grupo não se verifica entre os Tikunas e a sadia miscigenação pode ser exemplificada pela origem dos próprios caciques; João, da Comunidade de Feijoal, e de seu irmão de Belém do Solimões que embora tenham sangue Tikuna por parte de mãe tem pai paraense.

- O veneno Tikuna

Os Tikunas fabricavam um veneno de efeito mortífero fulminante conhecido como ‘curare’ e que foi chamado pelos tapuias de ‘Tikuna’, nome que passou a designá-los. Charles-Marie de La Condamine, primeiro cientista francês a participar de uma expedição francesa à Amazônia, enviado, em 1735, pela Academia Francesa de Ciências para calcular o diâmetro da terra no equador. O cientista, em 1743, desceu o Amazonas e fez diversas anotações sobre a flora, fauna e costumes dos nativos. Ele afirma, no seu livro, que testou, com sucesso, o veneno fabricado pelos Tikunas em galinhas durante sua estada em Caiena, na Guiana Francesa.

A respeito do veneno, Condamine, relata que:

Esse veneno é um extrato feito por meio do fogo, do suco de diversas plantas, e particularmente de certos cipós. Asseguram que entram mais de trinta espécies de ervas e raízes no veneno feito pelos Tikunas, que é aquele que experimentei, e que é o mais estimado entre os diversos conhecidos ao longo do rio Amazonas. Os índios o compõem sempre da mesma maneira, e seguem sem discrepar o processo que aprenderam de seus antepassados, tão escrupulosamente quanto os farmacêuticos entre nós para a composição da Teriaga de Andrômaco, sem omitir o menor ingrediente prescrito; sem embargo de que provavelmente essa grande multiplicidade não seja necessária no veneno índio, como no antídoto da Europa”.

Os Tikunas são hoje o maior grupo indígena do Brasil com mais de 32.000 pessoas. São encontrados no estado do Amazonas, ao longo do rio Solimões em terras dos municípios de Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá, Fonte Boa, Anamã e Beruri e, fora do Brasil, na Colômbia e no Peru. Os Tikunas falam uma língua isolada e uma de suas características é de fazer uso de diferentes alturas na voz, o que a classifica como uma língua tonal. Os Tikunas estão organizados em clãs agrupados em metades, que regulam os casamentos. Os membros de uma metade devem casar-se com pessoas da metade oposta, sendo que os filhos herdam o clã do pai. Em uma das metades estão agrupados os clãs com nomes de aves - mutum, maguari, arara, japó etc. Na outra metade estão os clãs que possuem nomes de plantas e de animais, como o buriti, jenipapo, avaí, onça, saúva.

- Comunidade Feijoal

Saímos de Tabatinga às 07h30 rumo a Feijoal no dia 1º de Dezembro de 2008. Depois de navegarmos durante 4 horas comecei a indagar dos nativos amigos a localização da Escola Marechal Rondon da Comunidade Feijoal. A população indígena Tikuna da área se mostrava desconfiada com minha presença e as informações quanto à localização da Comunidade não eram, absolutamente, confiáveis. Conversando, mais tarde, com os policiais federais, da Base Anzol, eles nos informaram que os traficantes colombianos, procurando passar despercebidos, têm lançado mão de pequenas embarcações, a remo, para suas atividades ilícitas. Só comecei a ter algum êxito quando perguntei pelo professor Henrique, cujo nome tinha sido indicado pelo meu amigo professor Sebastião Rocha de Sousa da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em Tabatinga. No seu dialeto, alguns jovens, tentavam me indicar o rumo a ser tomado. O contato que havia feito com o administrador regional da Funai em Tabatinga, o senhor Davi Félix Cecílio, foi de muita valia. Ao chegar procurei o Professor Henrique, que já tinha sido informado de nossa vinda pelo amigo Davi, o professor conseguiu que ficássemos instalados no posto da Funai, com direito a ar condicionado e banheiro.

- Entrevista com as lideranças

Tomamos um bom banho e entrevistei as autoridades da Comunidade, o cacique João, o encarregado da Funai, senhor Arsênio, o professor Henrique, dentre outros. Durante as entrevistas saboreávamos a mapati, chamada de ‘uva da Amazônia’.

Mapati (pourouma cecropiifolia) - também conhecida como ‘Embaúba de vinho’, os frutos maduros são muito apreciados pelo homem e pela fauna. O fruto maduro é preto, a casca tomentosa, a polpa esbranquiçada é doce e saborosa.

Os problemas relatados foram como era de se esperar, referentes à segurança, em decorrência da ação de traficantes e exploradores da mata nativa dentro da área da reserva, à saúde em decorrência da falta de medicação no posto da Funasa e à educação tendo em vista a dificuldade do acesso ao Ensino Superior para os concludentes do 3º ano do Ensino Médio. A principal reivindicação era de uma casa de apoio em Tabatinga onde pudessem ficar alojados quando estivessem cursando a faculdade na UEA, uma reivindicação justa de qualquer sociedade medianamente organizada. Os pontos fortes que observei, junto aos Tikunas de Feijoal, foram o respeito e a confiança depositada nas suas lideranças, a limpeza da Comunidade, o sistema de refrigeração na escola de Ensino Fundamental Marechal Rondon, a água tratada e a energia elétrica.

- Um convite irrecusável

O cacique João Farias Filho me convidou insistentemente a permanecer mais um dia na sua Comunidade. Concordei, após comunicar à equipe que isso exigiria de nós um esforço especial no percurso de Belém do Solimões a Santa Rita de Weil já que para manter a programação teríamos de suprimir o pernoite na Comunidade de Santa Maria. Na manhã de 02 de dezembro sai com o cacique para conhecer a Comunidade quando tive a oportunidade de conversar com alguns alunos do Ensino Médio que relataram emocionados, em português e na língua nativa, suas angústias ante a impossibilidade de dar continuidade aos estudos.

Logo, em seguida, chegaram meus parceiros e seguimos com o cacique e outras lideranças ao sítio do Arsênio onde tivemos a oportunidade de provar algumas das iguarias locais, como o ingá e a mapati, observar os frutos de cupuaçu e cupuí, ainda fora da época da colheita, e alimentar os tambaquis e outros peixes no lago artificial onde são criados.

Ingá (árvore da subfamília mimosoideae) - comum nas margens de rios e lagos, é muito procurado pelo homem e pela fauna por suas sementes envolvidas pela sarcotesta branca e adocicada.

Cupuaçu (theobroma grandiflorum) - é um fruto parente próximo do cacaueiro. A árvore é conhecida como cupuaçuzeiro, cupuaçueiro ou cupu. Os frutos tem a forma esférica ou ovóide e medem até 25 cm de comprimento, tendo casca dura e lisa, de coloração castanho-escura. As sementes ficam envoltas por uma polpa branca, ácida e aromática.

Cupuí (theobroma subincanum) - parente do cupuaçu verdadeiro ao qual se assemelha em aparência é, entretanto, bem menor e, ainda que possua polpa mais saborosa e doce não tem o aroma do cupuaçu.

A nossa parceira Fabiola se envolveu com as crianças e essas a convenceram a se deixar pintar com Jatobá afirmando que a tinta sairia depois de uma semana. A cor escura, quase preta, do jenipapo teria atributos anti-sépticos e agia como protetor solar segundo elas. A parceira permaneceu com a tinta escura na pele por mais de dez dias o que não evitou que ela tivesse sérios problemas com queimaduras pelo sol.

Jenipapo (genipa americana) - da familia das Rubiaceae possui ótima madeira para a construção de moveis. O seu fruto é uma baga subglobosa que geralmente é de cor amarelo-pardacenta, com polpa aromática, comestível, de que se fazem compotas, doces, xaropes, bebida refrigerante, bebida vinosa e licor. Além disso, é possível extrair do fruto uma tinta preta, muito usada pelos indígenas, há milênios, em petróglifos, cerâmica, cestaria, tatuagens, pintura corporal etc.

- Entrevista com o Cacique João Farias Filho

Boa tarde, coronel! O senhor foi muito bem recebido na Comunidade. Meu nome é João Farias Filho, eu sou o cacique da Comunidade Feijoal e estou representando mais de 2000 pessoas. Eu quero levar ao conhecimento de todos que, na nossa Comunidade, embora o senhor tenha elogiado a sua infra-estrutura, está faltando ainda muita coisa nas áreas de educação, saúde e saneamento básico. Eu quero levar este recado para que o senhor possa agir pela gente. Na nossa escola, os alunos não têm espaço para desenvolver suas habilidades, não tem uma área de lazer, uma sala de informática que possam fazer uso após as aulas. Nos já temos computadores, mas falta a conexão com a internet. Eu queria que o governo auxiliasse nossos mais de 1000 alunos, oferecendo-lhes outras possibilidades, como cursos profissionalizantes e acesso à internet, para que eles possam verificar como anda o mundo lá fora. Por isso que nosso jovem, e de outras Comunidades, também, sem maiores perspectivas, acaba por se envolver com as drogas e com a violência. Nós temos vários projetos para levar avante, e que foram apresentados aos políticos, mas até agora nada foi feito”.

- Um jantar especial

Compramos uns peixes (traíras e jaraquis), e o Arsênio nos instou a que o mesmo fosse preparado na sua casa. Deixamos os peixes com ele e fomos nos preparar para o jantar. Chegando à casa do amigo, retiramos os chinelos na varanda e nos dirigimos aos fundos da residência. A tia do Arsênio preparava o jantar num fogo de chão montado na ampla sala. Conversamos um bom tempo sobre os assuntos mais variados; os amigos Tikunas estavam muito bem informados sobre os problemas nacionais e internacionais, pois, como havíamos documentado, quase todas as casas possuíam televisão. A curiosidade maior foi a posição das antenas parabólicas - na horizontal - já que essa era a posição ideal para quem estava instalado nas proximidades da Linha do Equador onde se localizam os satélites geo-estacionários.

Jaraqui (prochilodus brama) - peixe teleósteo, caraciforme, caracídeo, muito comum no Amazonas, o corpo apresenta listras negras horizontais na parte superior da linha lateral, mais acentuadas na parte posterior. Semelhante ao curimatá.

O cacique João, evangélico, fez-se presente e antes da refeição, encabeçou uma prece em agradecimento ao Senhor. Sentados, cerimoniosamente, no chão, consumimos o delicioso jantar preparado pela tia de Arsênio. Durante a refeição, provoquei o cacique para que nos relatasse algumas de suas lendas e costumes. Ele nos relatou como foi criado o Povo Tikuna e a festa da Moça Nova.

- ONGS

O cacique comentou sobre a ausência de ONGs nas comunidades Tikunas. Respondi a ele que a partir do momento em que fossem descobertas riquezas minerais em suas terras, estas apareceriam às dezenas disputando acirradamente as preferências dos Tikunas sem qualquer constrangimento.

Quero deixar registrado meu agradecimento a cada comunidade Tikuna que nos brindou com sua hospitalidade e carinho na minha inesquecível jornada pelo Solimões e em especial ao cacique João Farias Filho.


Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Pecuaristas vão ter de 'entrar na linha', adverte Minc




Ele elogia boicote ao gado com origem em desmatamento recente.

Ministro se defende de quem o critica por aparecer demais na mídia.

"A pecuária hoje é o maior agente de desmatamento da Amazônia e quero dizer aos que representam este setor que entrem na linha ou vão se dar mal", diz, em entrevista exclusiva ao Globo Amazônia, o ministro do Meio ambiente, Carlos Minc. Ele fez o comentário a propósito do boicote de redes de supermercados à carne produzida no Pará, por causa da suposta ligação do produto com o desmatamento da floresta amazônica. A decisão desses supermercados teve base em investigações do Ministério Público Federal e da organização de defesa ambiental Greenpeace.


Na entrevista, Minc também detalha o programa de desenvolvimento que o governo lança nesta sexta-feira (19) nas cidades que mais desmataram a Amazônia recentemente e se defende de quem o critica por aparecer demais na mídia.

Globo Amazônia - O que é a operação Arco Verde/Terra Legal, que o senhor lança com o presidente Lula e outros sete ministros nesta sexta-feira?


Carlos Minc - Estamos combatendo o desmatamento na Amazônia. Conseguimos reduzir o desmatamento em 55% em comparação aos mesmos meses do ano anterior, pelos dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Como? Corte de crédito para desmatadores, leilão de boi e madeira pirata, triplicamos as operações, em suma, combatendo o crime ambiental. Você tem que dar às pessoas os meios de fazer o certo. Na Operação Arco Verde, o Ministério do Desenvolvimento Agrário dá o titulo da terra, o Banco da Amazônia (Basa) dá crédito para pequenos empreendimentos sustentáveis. Tem a pesca e a piscicultura: vamos colocar o peixe amazônico no lugar do boi pirata. O Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, vai entrar com o manejo florestal sustentável. A Embrapa dará orientação para uma boa agricultura de baixo impacto, que não invada áreas protegidas.

Globo Amazônia - Foi preparada uma espécie de caravana do governo, com caminhões que irão a estas cidades. Com uma operação itinerante , podemos esperar um resultado duradouro?

Minc - A operação é permanente. Isso é o lançamento. Você lança as bases, identifica as pessoas, coloca um posto do INSS, outro da Embrapa, cria critérios de sustentabilidade para o Basa e o Banco do Brasil investirem, escolhe as localidades mais propensas a receberem apoio para fazer manejo florestal. Depois o programa continua. Esta blitz inicial é para mapear e implantar. Depois vem a continuidade e a manutenção.

Globo Amazônia - O presidente Lula disse que vetaria "excessos" na MP de regularização fundiária da Amazônia, mas não especificou quais. Ele já disse ao senhor o que exatamente pretende vetar (clique aqui para entender a MP da Amazônia)?

Minc - Ele ouviu várias opiniões e deve tomar sua decisão definitiva até o dia 24. A ideia geral é manter o espírito inicial do projeto. Considero a regularização fundiária essencial para combater a violência da terra. Além disso, ela ajuda a combater o desmatamento. Um dos pontos da lei diz que quem ganhar o título e desmatar sua reserva legal ou área de preservação permanente perde a terra.

Globo Amazônia - Essa discussão em torno da MP 458 e de outras medidas colocou o senhor em choque com os ruralistas. O senhor reclamou que os projetos ambientais que chegam ao Congresso são tão modificados que perdem sua essência. Falta uma frente ambientalista mais ampla para conter esse tipo de modificação?


  • Aspas

    O bom fiscal é o povo consciente."

Minc - Temos uma frente ambientalista de mais de 200 deputados, mas, na hora do voto, contamos com uns 40 ou 50 deles. Por outro lado, a frente ruralista também não está com essa bola toda. Tentaram tirar as restrições ambientais da lei de regularização fundiária, e perderam de 190 a 90 na Câmara.

Não sou sectário em relação à grande agricultura. Eu me identifico com a pequena produção, acho que são nossos aliados principais. Agora, eu tenho uma tradição de diálogo com a grande produção. Tivemos um acordo com [o setor] da soja - a Moratória da Soja. Um mês atrás fizemos um balanço e eles cumpriram o acordo em 97%, ou seja, a soja deixou de ser problema de desmatamento da Amazônia.

O que está fora de controle? A pecuária. Quase fechamos um acordo com a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes). O presidente, Roberto Gianetti da Fonseca, esteve aqui três vezes. Quando começou a crise e quebrou o [frigorífico] Independência, eles roeram a corda do acordo. Só que a sociedade reagiu. Agora os supermercados estão pregando boicote - Wal-Mart, Pão de Açúcar. Até a Adidas não quer mais comprar couro para tênis de pecuarista que desmata a Amazônia. Acho isso muito bom. O bom fiscal é o povo consciente, o consumo consciente.


Globo Amazônia - O presidente da Abiec argumenta que é difícil para os frigoríficos controlar a origem do gado que compram. E ele aponta que o governo não ajuda a criar uma forma de rastreamento.

  • Aspas

    A pecuária hoje é o maior agente de desmatamento da Amazônia."

Minc - Não é verdade que eles não sabem as fazendas que desmatam, porque no site do Ibama tem todas as fazendas embargadas. O que dizem é que há tantas fazendas embargadas, que teriam problemas em romper com grande parte de seus fornecedores.

O Conselho Monetário Nacional (CNM) aprovou um pacote de apoio aos frigoríficos. Até aí tudo bem: uma atividade importante deve ser apoiada. O BNDES e todos os bancos públicos assinaram conosco um protocolo verde pelo qual estão impedidos de financiar quem desmata. Fizemos um decreto que diz que o frigorífico que compra carne de uma fazenda que desmata a Amazônia é co-responsável. Por isso, se ele não desmata, mas compra carne de quem desmata, não pode receber um tostão de crédito do BNDES.

Com esse boicote dos supermercados e dos consumidores, eles vão entrar na linha, como todos os setores têm que entrar. A pecuária hoje é o maior agente de desmatamento da Amazônia e quero dizer aos que representam este setor que entrem na linha ou vão se dar mal.

Globo Amazônia - Ainda assim, a maioria das multas ambientais não é paga e temos casos de fazendas embargadas que continuam produzindo, com milhares de cabeças de gado, e vendendo para grandes frigoríficos. A fiscalização ambiental não consegue acabar com esse tipo de impunidade?

Minc - Estou há um ano no ministério. Os dados apresentados em reportagens recentes se referem ao período 1997 a 2006. Desde o primeiro dia em que entrei, escolhi o combate à impunidade como a linha-mestra do ministério. O que fizemos? Primeira coisa: cortar o crédito dos desmatadores. Segundo: decreto de crimes ambientais. Em vez de esperar o processo judicial, em que o cara enrolava a multa por cinco anos, a gente pega a madeira pirata, leiloa, e usa o dinheiro para empregar aqueles estavam trabalhando nas serrarias e carvoarias ilegais, para não ficarem desempregados e desmatarem 5 quilômetros adiante. Triplicamos a fiscalização. Criamos com o Ministério da Justiça a Coordenação Integrada de Combate aos Crimes Ambientais. Antes eu não podia convocar a Força Nacional para operações. Hoje posso. Já participei diretamente de 22 operações na Amazônia, todas com prisões, apreensões, embargos e leilões.

Globo Amazônia - O senhor participou pessoalmente de 22 ações de fiscalização. O Globo Amazônia acompanhou a Operação Caapora, em Nova Esperança do Piriá (PA). Foram fechadas 13 madeireiras ilegais no município e a população parecia decepcionada com o fato de o senhor ter visitado a cidade por cerca de uma hora junto com jornalistas, mas não ter falado à população local sobre o o encerramento da principal atividade econômica dali, ainda que ilegal.

Minc - Em primeiro lugar, estive três horas na cidade. Discuti com o prefeito, assinei um documento com ele e uma parte do dinheiro obtido com a venda da madeira ilegal foi para empregar essas pessoas que estavam em atividades ilegais. O prefeito esteve aqui e incluí, a seu pedido, esse município na Operação Arco Verde.

É muito fácil eu ficar no ar condicionado, em Brasília, dizendo faça isso, faça aquilo. Outra coisa é ir ver a dificuldade, que as pessoas estão lá na ponta, que o aparelho de comunicação não funciona, que não chegou a diária, que estão picados de mosquitos, que o carro do Ibama está crivado de balas. É importante para dar moral para a tropa. Além disso, para levar a imprensa e dar visibilidade - mostrar quem está combatendo o desmatamento e a impunidade, e a cara dos donos de serrarias e de fazendas que estão invadindo e desmatando.

Globo Amazônia - Ouvimos de funcionários do ministério que já ganhou até o apelido de "Indiana Minc". O que acha disso?

Minc - Os apelidos são os mais variados. Como deputado estadual fiz muitas leis, mas sempre gostei muito da ação direta. Descobri que a maior parte das leis que fazíamos ninguém dava bola. Ninguém lê Diário Oficial. Então eu ia para as portas das fábricas com lixo químico simulado e dizia para cumprirem a lei do lixo químico. Fiz uma lei que obrigava os hotéis e motéis a darem três camisinhas a cada casal. Coloquei uma "camisona" de 18 metros no obelisco da Avenida Rio Branco [no Rio]. É claro que isso tem um lado folclórico e midiático assumido, mas, por outro lado, as pessoas percebem exatamente do que estamos falando. Ninguém sabia que tinha a lei da camisinha. Depois que botamos uma de 18 metros no obelisco, todo mundo passou a saber.

Globo Amazônia - Então, o senhor é um ministro midiático assumido?

  • Aspas

    O Ibama faz 300 operações por mês e a imprensa não cobre. Quando vou, há uma cobertura."

Minc - Absolutamente assumido. Não tenho vergonha do que faço. E aquilo que sai no Diário Oficial e ninguém lê, ninguêm fica sabendo. O Ibama faz 300 operações por mês e a imprensa não cobre. Quando vou, há uma cobertura.

Globo Amazônia - Há um grande debate em torno da recuperação da rodovia BR-319, que liga Porto Velho a Manaus, mas que está intransitável em praticamente metade dos seus cerca de 800 quilômetros. A obra está prevista no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas ambientalistas temem que, por passar por uma região ainda intacta de floresta, pode abrir uma nova frente de desmatamento. Se dependesse do senhor, esta obra seria feita?

Minc - Minha opinião pessoal é contrária. Acho que, do ponto de vista do meio ambiente, a melhor solução é a recuperação da hidrovia do Rio Madeira. Agora, eu não sou ministro dos Transportes, nem governador do Amazonas, tampouco presidente da república. O governo querendo fazer a rodovia, minha posição passa a ser adotar todas as medidas para que ela não vire uma estrada da devastação da área mais preservada da Amazônia. Não posso permitir que a BR-319 vire uma segunda versão da Cuiabá-Santarém (BR-163, rodovia que, quando criada, acelerou fortemente o desmatamento no Pará).

Foi estabelecida uma série de condições muito rígidas para cada etapa [do licenciamento] (foi exigida a criação de mais de 100.000 km² de reservas, além de postos de controle do Exército e da Marinha ao longo da rodovia). Se isso tudo for feito antes da licença prévia, posso garantir que o nível de desmatamento será mínimo. Por pressão política, não sai licença. Ou se cumpre tudo, ou ela não sai.

Globo Amazônia - Na última sexta-feira, a revista "Science" trouxe um artigo que compara o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de municípios amazônicos em diferentes estágios de desmatamento. A principal conclusão é que os municípios totalmente desmatados apresentam indicadores de renda, escolaridade e expectativa de vida similares àqueles ainda muito conservados. Somente aqueles que estão no meio do processo de devastação apresentam algum ganho, ou seja, depois que a floresta é consumida, vem a pobreza novamente. Como fazer para quebrar esta busca pelo ganho com a floresta?

Minc - O estudo é muito bem feito. Podemos comparar [o desmatamento] com a atividade de mineração. Tira-se o ouro todo. Quando acaba, todo mundo fica pobre e vai embora. Sempre dou o exemplo da Finlândia, uma economia florestal de alto IDH que faz manejo florestal (exploração planejada da floresta, que permite que ela se recupere). Ela exporta móveis para o mundo inteiro e tem hoje a mesma cobertura florestal que tinha há cem anos. É possível fazer isso, mas não é o que se faz na Amazônia, onde a pessoa entra em terra que não é dela, não paga pela terra, não assina carteira, não paga multa e ri do nosso nariz. Hoje é mais fácil fazer a coisa errada que a certa. Temos que inverter esta equaçao econômica. Temos que impedir que o criminoso ambiental enriqueça com o produto de seu crime.




INDIOS NO FORUM MUNDIAL SOCIAL - BELEM DO PARA - BRASIL

INDIO NO FORUM MUNDIAL SOCIAL - BELEM DO PARA - BRASIL

INDIOS CAIAPOS NO FORUM MUNDIAL SOCIAL - BELEM DO PARA - BRASIL

INDIO NO FORUM MUNDIAL SOCIAL - BELEM DO PARA - BRASIL

FAMILIA INDIGENA NO FORUM MUNDIAL SOCIAL - BELEM DO PARA - BRASIL