Grupo quer reembolso de gastos com viagens, hotel e alimentação.
Manifestação teve início em janeiro; Justiça determinou desocupação de área.
Índios que ocupam a Esplanada dos Ministérios em Brasília (DF) desde o início do ano pediram mais de R$ 500 mil ao governo federal para encerrar o protesto, iniciado em janeiro. O pedido aconteceu antes de o governo ter conseguido na Justiça um mandado de desocupação judicial.
Apesar de a polícia ter retirado os manifestantes do local no sábado (10), um grupo de cerca de 300 índios de 25 etnias retornaram ao gramado da Esplanada e continuam o protesto. O grupo pede a troca de comando na Fundação Nacional do Índio (Funai) e a derrubada de um decreto presidencial que reestruturou o órgão, fechando postos em algumas cidades.
O principal entrave nas negociações, no entanto, é o dinheiro que os índios querem receber como compensação pelo que supostamente gastaram para organizar a manifestação. Os índios apresentaram uma lista manuscrita com os gastos.
Eles pedem reembolso de R$ 260 mil de despesas com ônibus para realizar o transporte entre Maranhão e Brasília e mais R$ 180 mil com ônibus no trajeto Pernambuco-Brasília. Há ainda o pedido de R$ 119,9 mil para gastos com alimentação dos manifestantes “na estrada”. Outros R$ 3.360 teriam sido gastos com diárias de hotel e alimentação. O total da reivindicação chega a R$ 563.260 dos quais R$ 440 mil apenas com viagens.
A lista de gastos foi entregue à Funai, ao Ministério da Justiça e ao gabinete da Presidência da República. Um dos manifestantes que assinam o documento confirmou ao G1 a autenticidade do pedido, que foi enviado por fax para os órgãos do governo federal.
O Ministério da Justiça confirma ter recebido o pedido financeiro, mas informou ao G1 que não há qualquer possibilidade de o governo fazer o pagamento do valor pedido pelos índios, mas que pode oferecer aos manifestantes transporte até suas aldeias de origem e alimentação durante o trajeto.
A negociação para que o governo ajudasse financeiramente os manifestantes começou em uma reunião no dia 12 de junho, em que estiveram presentes representantes dos três órgãos governamentais. Desta reunião saiu um documento dizendo que o governo se comprometia a pagar o transporte e a alimentação dos manifestantes e diárias em hotéis para que 20 deles continuassem em Brasília para negociar as reivindicações do movimento.
Foi com base nessa negociação que a conta foi apresentada. Osvaldo Rosa da Silva Júnior, um dos signatários do pedido financeiro, afirma que o acordo previa o pagamento de todas as despesas com o protesto. “Essa gente toda teve que comer esse tempo todo. O governo não cumpriu nada do que prometeu”, reclamou.
O indígena Osvaldo afirma que a questão financeira não foi o único problema de negociação. Eles afirmam que outros pontos do acordo, como a recriação de postos da Funai nas cidades de São Luís (MA), Guaranhuns (PE) e Curitiba (PR) também fizeram com que a manifestação continuasse.
Ele afirma que diante do fracasso das negociações os indígenas não deixam mais o espaço nem que o valor pedido seja pago. Osvaldo afirma que o protesto só termina com a demissão do presidente da Funai, Marcio Meira
Nesta quarta-feira, cerca de 80 indígenas, entre eles muitas crianças, ocupavam a Esplanada dos Ministérios, se acomodando em redes e no chão. Uma das manifestantes, Edinária Bento, afirma que cerca de 300 pessoas continuam no protesto, ainda que nem todos fiquem no local o tempo todo.
Segundo ela, os indígenas têm sobrevivido de doações feitas por pessoas ligadas ao movimento, e o transporte para Brasília foi pago com dinheiro arrecadado nas bases, principalmente com a venda de artesanato.
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